“Em dia com a Psicologia”
Superstição
Tenho um amigo que tem uma meia da sorte. Toda vez que vai sair com uma garota pela primeira vez, ele a veste e diz que é para dar sorte.
Se a gente investigasse o porquê de ele considerar aquela meia como sua meia da sorte, provavelmente descobriríamos que alguma vez em que ele a usou aconteceu alguma coisa boa, talvez ele tenha conseguido ficar com alguém que ele gostava muito, por exemplo. Depois disso, ficou aquela boa impressão e, ao usar aquela meia, ele sempre espera que uma coisa boa aconteça e, como às vezes acontece, ele sempre a usa. É engraçado porque ele faz tudo certo: não chega atrasado, é gentil, inteligente, tem um bom papo, é bem humorado, mas se dá certo é porque ele está usando a meia da sorte!
Se a gente observar bem, a gente começa a notar que a gente faz coisas simplesmente para dar sorte ou para não dar azar. A gente beija cupons, acorda com medo porque sonhou com grilo, coloca sal atrás da porta, levanta com o pé direito e faz outras coisas esquisitas. Todos os comportamentos supersticiosos têm uma história, seja uma história pessoal, seja cultural ou de costumes. Provavelmente essas histórias começaram quando deu certo pela primeira vez por uma questão temporal, de uma coisa acontecer logo depois da outra, e continuaram a existir porque às vezes se confirmam. Uma vez eu comprei uma garrafa de refrigerante que estava no fundo da prateleira. A tampinha estava premiada e eu ganhei um CD. Agora eu sempre compro os refrigerantes que ficam no fundo.
Ser supersticioso pode atrapalhar quando a responsabilidade por nossas ações são transferidas para alguma coisa de fora que deu azar (por exemplo, um gato preto cruzou meu caminho e eu fui mal na prova) e quando a gente deixa de fazer coisas por medo de que aquele “sinal” seja um aviso de que algo pode dar errado. Quando os amuletos da sorte são muitos ao ponto de toda a nossa autoconfiança ser transferida para eles, também não é uma boa.
Quando a gente perceber que está se prejudicando por causa de superstições, pode tentar melhorar experimentando aos poucos deixá-las de lado ao enfrentar as situações que causam medo ou ansiedade. Assim, a gente vai se sentir mais responsável e mais seguro quanto às nossas próprias decisões.
Luciana Rosa Machado
lu_rosa@bol.com.br.
Artigo publicado pelo Bragança Jornal Diário em 2004
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