“Em dia com a Psicologia”
Mas ele é tão bonitinho!
É fácil reconhecer criança mimada e criança que faz birra. Elas choram nos supermercados, chamam a atenção quando há pessoas novas e dificilmente obedecem os pais.
Mas por que uma criança faz birra? Como uma criança se torna mimada? Será que é o jeito dela, ela nasceu assim e não há o que fazer? É ruim mimar um filho?
Uma criança não nasce mimada nem sabendo fazer birra. A birra foi uma coisa que ela fez de uma maneira bem sutil no começo. Deu certo e ela fez de novo. Deu certo e, agora, toda vez que ela quer alguma coisa, ela faz birra. Como sempre dá certo, ela aprendeu que quando quer alguma coisa ou se livrar de algo que não gosta, basta fazer birra ou fazer manha. Da mesma forma, a criança que foi mimada aprendeu que não precisa se esforçar muito para conseguir as coisas, ou seja, não precisa tentar outras maneiras de conseguir seus objetivos. Se a criança aponta para um brinquedo e o ganha imediatamente, não precisará pedir com jeitinho para os pais, avós e jamais venderá doces para juntar dinheiro ou fará qualquer outra coisa alternativa para conseguir. A longo prazo, essas crianças podem ter dificuldade para se adaptar a atividades que exijam variabilidade ou flexibilidade para alcançar os objetivos.
Mas qual seria a alternativa para a educação dos filhos, para que eles deixem de fazer birra ou não aprendam a fazer? O primeiro passo é não dar atenção para a criança enquanto ela faz birra, por mais demorado que seja, agüente firme e evite fazer uma armadilha para você mesmo! Se ela fizer birra durante 10 minutos e você der atenção, ela aprende que vale a pena chorar por 10 minutos porque depois vai ter a atenção que deseja (mesmo que a atenção seja uma bronca!). O segundo e mais importante passo é dar atenção aos outros comportamentos da criança. Se ela pára de fazer birra e começa a folhear uma revistinha, por exemplo, pergunte sobre a história ou peça para ela contar quem está na história. Assim ela aprende que outras coisas também chamam a atenção.
A atenção dos pais é muito valiosa, é o maior prêmio que a criança pode ter. Se ela for dada quando a criança faz alguma coisa legal ou quando a criança está “na dela”, ótimo, essa criança não vai precisar chorar para que os pais olhem para ela.
Por mais fofinhas que as crianças sejam, querer o sucesso delas é pensar mais longe e contribuir hoje para que elas se tornem adultos mais felizes e criativos.
Luciana Rosa Machado
lu_rosa@bol.com.br.
Artigo publicado pelo Bragança Jornal Diário em 2004