Por que será que é tão difícil mudar? Por que às vezes a gente sabe o que deve fazer para mudar e, na hora H, a gente faz a mesma coisa?

Por mais errado que seja e por mais conseqüências negativas que possam vir, quando a gente age como sempre agiu, a gente sabe mais ou menos o que fazer naquela situação e o que vai acontecer depois e isso dá uma certa segurança, um certo conforto. É muito mais fácil do que tentar fazer alguma coisa nova que a gente não sabe fazer direito e nem imagina o que pode acontecer depois.

Quem sabe que precisa mudar já percebeu que alguma coisa não está dando certo ou que algum dia não vai dar. Isso quer dizer que as conseqüências da maneira de agir de agora estão trazendo algum prejuízo. A mudança pode ser planejada envolvendo tanto o aprendizado de um novo jeito de agir quanto o levantamento das possíveis conseqüências da nova atitude. Se as novas conseqüências forem melhores, a mudança valerá a pena.

As pessoas podem adiar mudanças por diversos motivos, entre eles esperar a mudança das outras pessoas ou de alguma coisa que venha de fora. No entanto, quando a gente muda por dentro, acaba mudando nossas atitudes e, conseqüentemente, o mundo e as pessoas a nossa volta também se transformam para nós. Se queremos sentir coisas diferentes, devemos agir de maneira diferente.

Outro aspecto que pode adiar uma mudança ou uma tomada de decisão é ter a conseqüência da mudança muito distante, muito demorada. Por exemplo, um fumante sabe que deveria parar de fumar, mas não consegue porque o prazer imediato sentido a cada tragada é muito mais forte do que a possibilidade de ter uma vida mais saudável daqui há uns anos. A conseqüência a longo prazo fica fraquinha perto da conseqüência imediata e isso acaba dificultando a mudança. É como quem faz regime e vê um belo pedaço de bolo de chocolate. É difícil resistir porque perder alguns quilinhos está lá longe e o prazer de comer o bolo está bem perto. Isso também vale para mudanças sociais como a reciclagem do lixo. Não se ter onde colocar tanto lixo e o prejuízo ambiental que isso traz é muito fraco e muito distante se comparado à insistência do consumismo.

Parece que para mudar a gente precisa pensar mais longe, ou seja, pensar além do imediato. Isso requer muita coragem pois significa agir e sentir diferente.

Luciana Rosa Machado
lu_rosa@bol.com.br.

Artigo publicado pelo Bragança Jornal Diário em 2004

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