Este tratamento consistiu em obrigá-lo a assistir cenas de violência, sob o efeito de drogas que o faziam sentir-se mal. Ao final de 15 dias de exposição passa por um teste em que ele é provocado, ao tentar emitir comportamentos agressivos tem náuseas e vômitos que o impedem de reagir. Ele é considerado curado e libertado. Ele encontra então suas vítimas que se vingam. Seus pais, que já não o temem o colocam na rua. Uma de suas vítimas o seda e o tranca num quarto, onde ouve a mesma música que ouvia durante o tratamento fazendo-o repetidamente sentir-se mal (náuseas e vômitos), até que ele tenta suicídio e ao acordar no hospital percebe que o efeito do tratamento do “reflexo criminal” havia passado. O filme termina com personagem ouvindo a mesma música e imaginando cenas de violência, sem sentir náuseas.

Quando o filme foi exibido em 1971 a Análise do Comportamento começou a ser consolidada no Brasil e no contexto mundial muitas das principais publicações ainda não haviam sido divulgadas, até por isso o filme provavelmente não incorpora os conceitos que hoje chamamos Terapia Comportamental.

Uma intervenção comportamental real teria começado com uma avaliação dos comportamentos de Alex, na qual seriam identificadas as variáveis importantes para instalação e manutenção dos comportamentos inadequados, através de coleta de informações sobre a história de vida e das condições atuais, como relacionamentos, vida escolar, profissional, saúde física, etc. Seriam também levantados dados sobre comportamentos adequados, ou socialmente aceitos, que deveriam ser reforçados ou modelados.

No caso de Alex, ele vivia em um ambiente familiar com pais ausentes e negligentes, no qual não havia reforçamento de comportamentos adequados e não havia punição para comportamentos inadequados. Seu grupo social era formado pelos membros de sua gangue, os quais ficavam sob seu controle para evitar confrontos agressivos e para ter acesso a drogas. E também, Alex apresentava pobre repertório social, tais como manter amizade, manter relacionamentos sexuais ou amorosos. Por fim, ele não recebia punições por seus comportamentos criminosos, através dos quais podia ter acesso a drogas, prazer sexual e sensação de poder diante de sua gangue e de suas vítimas.

A partir desta avaliação pode ser planejada uma intervenção, com vários procedimentos adequados as necessidades levantadas.
No filme, apenas foi utilizado o contracondicionamento aversivo, focando apenas a modificação do comportamento de prazer eliciado pela violência e sexo agressivo. Sendo que ao sair da prisão Alex foi vítima de uma série de atos de violência e vagou pelas ruas sem dinheiro e sem comida o que terminou numa tentativa de suicídio.
A intervenção teria sido melhor conduzida levando em conta o repertório que deve ser construído para que Alex fosse capaz de adaptar-se adequadamente ao meio e produzir outros reforçadores em substituição aos que não poderia obter através da violência.

Além disso, seria necessário um acompanhamento após a intervenção, para garantir que os ganhos obtidos no tratamento permaneçam em vigor. Ou seja, no caso do contra-condicionamento na falta de novos emparelhamentos ocorreu uma extinção dos respondentes (náuseas e vômitos). E como nenhuma outra intervenção foi realizada para modificar outros comportamentos, Alex voltou ao padrão anterior.

A intervenção mostrada no filme também fere uma série de aspectos éticos. A saber, não foi respeitado o direito a dignidade, igualdade e integridade, já que Alex tornou-se apático e indefeso diante das violências sofridas. Qualquer tratamento deve visar à promoção da qualidade de vida, no tratamento de Alex não foi prevista qualquer intervenção para que ele desenvolvesse comportamentos socialmente adequados. Alex não recebeu um Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido para participar do procedimento experimental e quando pediu para sair do programa, não lhe foi permitido.

Por tudo isso, o que se observa no filme não pode ser considerada uma intervenção comportamental nos moldes do que se faz nos consultórios dos Terapeutas Comportamentais. Contra-condicionamentoaversivo foi algumas vezes utilizado para tratamento de tabagismo e alcoolismo, mas hoje se buscam procedimentos mais eficazes e mais agradáveis ao paciente, considerando-o como um todo e sua inserção no meio em que vive. A terapia comportamental tem uma visão ampla do paciente, incluindo questões como auto-estima, auto-conhecimento, qualidade de vida, emoções e sentimentos, não focando apenas nos comportamentos disfuncionais, mas tudo que pode estar envolvido no problema do cliente. Baseando-se sempre em técnicas e procedimentos validados cientificamente e na conduta ética.

[b]Texto discutido no Grupo de Estudos do IPC em 02/00/2009.[/b]

Emanuelle Paulino Papa – CRP 06/58110-9
Priscila de Moura Pessoa – CRP 06/90017
Cristiani da Silva Joaquim – CRP 06/63459
Marciliana Andrea Correa – CRP 06/6519-5
Fernanda Pallone – CRP 06/87187

Farias, A. K. C. R., Ribeiro, M. R., Coelho, C. & Sanabio-Heck. Laranja Mecânica: Uma análise Behaviorista Radical. Em Skinner vai ao cinema. Ana Karina Curado Rangel de-Farias e Michela Rodrigues Ribeiro Organizadoras. 1 ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2007.

Menu